segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Deus no céu, bispos e apóstolos na terra

por Marjorie Avelar - OSUCESSO
Donos de verdadeiras fortunas, a exemplo dos autoproclamados bispos Sônia e Estevam Hernandes (presos recentemente nos Estados Unidos com dólares na Bíblia), da Igreja Renascer em Cristo, e do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, pastores de algumas igrejas evangélicas, sobretudo as neopentecostais, têm transformado a fé em um negócio pra lá de lucrativo. Do nada e sem história que justifique intitulações de grandeza, eles abrem e fecham seus templos como se fossem verdadeiras empresas. O alerta de Cristo no Evangelho de Lucas, capítulo 16, versículo 12, é sempre esquecido: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque odiará a um, e amará o outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não se pode servir a Deus e a Mamon (termo aramaico que significa dinheiro)”.De acordo com especialistas em religião e psiquiatras, muitos pastores, para envolver os fiéis, transmitem a idéia de que são os verdadeiros enviados de Deus ou até mesmo o próprio. Com discursos inflamados, eles garantem ouvir a voz de Deus, conversar pessoalmente com Ele e, por fim, se autoproclamam bispos e apóstolos, contrariando, inclusive, os ensinamentos da Bíblia. E tudo para mostrar seu poder praticamente sobrenatural. Afinal, teriam essas pessoas algum problema psicológico ou seriam simplesmente talentosos marqueteiros da fé?Durante uma entrevista, um repórter, que prefere não ser identificado, se referiu ao apóstolo César Augusto, fundador da Igreja Fonte da Vida (ex-Ministério Comunidade Cristã), como pastor. Imediatamente, o religioso o corrigiu: “Não sou pastor, sou apóstolo”. Para o téologo Odilon Mendonça de Oliveira, 54, que há 23 anos é pastor da Igreja Assembléia de Deus, apóstolo e bispo são denominações usadas de forma equivocada. “Os oficiais e legítimos apóstolos, assim como aparecem no Novo Testamento, são aqueles homens que conviveram pessoalmente com Jesus Cristo, ou seja, apenas 12. A exceção foi Paulo, que, após Jesus aparecer para ele a caminho de Damasco, passou a ser chamado de apóstolo. Fora os 13, nenhum homem comum pode ser chamado da mesma maneira”, afirma o pastor. “JESUS PODE VER SEU CORAÇÃO E SEU BOLSO”Pastor Cícero Vicente Araújo, da seita Jesus, a Verdade que Marca, atuante no Estado de Minas Gerais, costuma proclamar, em suas pregações, que ele é o único profeta da igreja. Em discursos que mais parecem lavagem cerebral, o pastor chamou a atenção da polícia mineira por causa de suas pregações sobre a “morte em Cristo”. A mãe de uma seguidora da seita chegou a enviar uma carta, alertando as autoridades locais, sobre o risco de o pastor promover suicídio coletivo, já que ele passa aos fiéis somente informações negativas sobre filhos, manipula com informações sobre estrangulamento de crianças e o sofrimento das grávidas. Segundo um ex-integrante da seita, o pastor Cícero Vicente Araújo já teria acumulado patrimônio superior a R$ 10 milhões.Esse caso pode ser comparado ao do pastor norte-americano Jim Jones. A diferença é que este concretizou seus “ensinamentos”, quando, em 18 de novembro de 1978, levou 900 pessoas à morte, por puro fanatismo. Os que se recusaram a beber o suco de laranja com veneno (cianureto) foram assassinados. Fundador da Igreja Pentecostal Deus é Amor, o pastor David Miranda costuma dedicar, em seus cultos, 80% do tempo para pedir dinheiro aos fiéis. Certo dia, chegou a chamar de fariseus aqueles que não atendem aos seus pedidos de contribuição. “Vocês não podem mentir para Jesus. Se alguém disser que não tem 10 reais está mentindo. E se Deus pode ver seu coração, Ele vê seu bolso”, disse o religioso, conforme consta em rerportagem da revista IstoÉ, de setembro de 2004. (M.A.)FANATISMODe forma generalizada, sem apontar um ou outro religioso, o psiquiatra Manoel Dias Reis acredita que o perfil de muitos pastores se assemelha ao de uma pessoa com transtorno de personalidade ligado à veia mística. “Posso afirmar que uma pessoa que se autoproclama ser enviado de Deus, se diz bispo, apóstolo ou qualquer outra denominação, e que, por meio do seu dom da palavra, tenta convencer um terceiro dessa idéia, é uma pessoa que sofre de personalidade psicopática, tipo fanático”, afirma o psiquiatra.Para denominar o comportamento de alguns pastores, bispos e apóstolos de igrejas evangélicas, o médico usa a teoria do também psiquiatra Kurt Scheneider. Em 1923, Scheneider elaborou uma conceituação e classificação do que era, para ele, a personalidade psicopática. Mas, de acordo com Manoel Dias, é a definição de outro psiquiatra, Cleckley (1941), que melhor explica o comportamento de vários pastores. Características como encanto superficial, notável inteligência e loquacidade, manipulação com recursos enganosos, mentiras e falta de sinceridade podem ser notadas em falsos religiosos que usam e abusam do seu talento para o convencimento e extorsão de dinheiro do fiel, transformando as igrejas em verdadeiras empresas típicas do capitalismo brasileiro.MAIS EQUÍVOCOSO pastor Odilon Mendonça explica que bispos, pastores e presbíteros são palavras sinônimas, conforme também consta na Bíblia. “Em algumas igrejas neopentecostais, esses nomes são usados para hierarquizar os cargos, o que também é um erro. Na Bíblia, bispos, pastores e presbíteros são iguais perante a comunidade e a Deus. Por isso, uma pessoa que se autoproclama bispo ou apóstolo deve sofrer de megalomania, ou seja, tem mania de grandeza. A soberba e a vaidade não são coisas de Deus”, diz o teólogo. Na opinião dele, a proliferação das igrejas neopentecostais tem seu lado positivo. “A difusão do Evangelho é uma coisa boa. Muitas pessoas que andavam por caminhos tortuosos passaram a ter equilíbrio na vida após a conversão religiosa. O grande problema é que muitos desses pastores não têm alicerce, base teológica e usam a igreja como verdadeiras empresas, enganando os próprios fiéis”, aponta o teólogo.

Se Deus receber um só desses falsos religiosos no Céu é por que falsificaram até a carteirinha de acesso!

Bando de picaretas!

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