A cultura condenada de Iris Rezende
http://www.dm.com.br/impresso/7691/opiniao/56896,a_cultura_condenada_de_iris_rezende
PX Silveiraexecutivo do Instituto ArteCidadania e vice-presidente do Instituto Pensarte
Não adianta reclamar. Sabe-se que ficar velho é a única forma de não se morrer jovem. Na política, a sobrevivência por longo tempo tem valor dobrado. Pois, além de se permanecer vivo biologicamente, manter-se vivo politicamente é mais difícil ainda.São vários os segredos da longevidade dupla de Iris Rezende. Todos ao alcance do mais simples mortal. Mas é que com Iris é diferente, pois em quantos de nós surge uma ou outra idéia, assim a esmo, que deixamos passar? Pois a diferença é que com Iris, cada idéia é uma causa que tem sua realização como conseqüência – e no menor prazo possível. Agora, dos vários segredos estampados no livro aberto que é sua vida, o mais determinante é a ética, que se traduz em lisura e transparência, em retidão e vigilância. Só pela ética e o rigor com que a aplica para si e para seus auxiliares, Iris já seria um político de se admirar. Para ele, não bastam as aparências, tem que corresponder desde o mais fundo das intenções. Ou não?Em recente episódio, Iris determinou que sua nova equipe deverá ser composta apenas por aqueles que queiram se dar à cidade sem esperar nada em troca, descartando qualquer interesse alheio ao trabalho público, que deve ser apenas o dever cumprido de seus auxiliares e não um investimento político para se cacifarem às próximas eleições. Ponto para ele, novamente. E neste embalo, eu gostaria de colaborar alertando para alguns fatos que talvez o prefeito ainda desconheça, como aqueles fatos que rondam a sua Pasta da Cultura, área que acompanho com interesse de cidadão e de cidadania.A notícia chegou durante a última campanha para prefeito e vereadores na capital goiana. Foi preciso esperar um pouco para ver até onde ela atingiria. Mas como reação, só se ouviu o silêncio. De nossa parte, nada falamos para não servir de alimento das fogueiras eleitorais. Em tempo de eleição, ao invés de abordar o assunto desagradável para todos, preferimos expressar claramente nossa preferência majoritária, em dois artigos, falando das qualidades do nosso candidato a prefeito, visivelmente superiores às de seus concorrentes.Passadas as urnas, já passa, também, da hora de externar nossa indignação, tanto mais veementemente quanto a convicção de ter esperado para não ser mal interpretado. De início, é imperioso registrar que espanta-nos a falta de reação do próprio poder municipal central. Pois a notícia a que nos referíamos não deixa dúvidas. Flagrado em atividades internas que o beneficiariam em detrimento dos produtores culturais da cidade, depois de denunciado por artigos (vide O Mau Cheiro da Cultura, mês de maio do ano pasado) e reportagens neste e em outro importante diário, o atual secretário municipal de Cultura foi finalmente considerado culpado por seus atos. Uma vez condenado, sem recorrer, o secretário assumiu sua culpa, negociando o pagamento de uma pena bisonha, tendo em vista os valores em jogo.Ora, como pode um servidor público da mais alta patente confessar seu crime no âmbito administrativo e mesmo assim permanecer no posto, como se nada tivesse acontecido? Afinal, essa é ou não é uma prefeitura de lisura ética e respeito com o cidadão? Sequer desculpas ou explicações o referido gestor tratou de providenciar junto à imensa legião de artistas e produtores culturais goianienses, com os quais concorria ilegalmente no intuito de se beneficiar do dinheiro público que ele próprio está encarregado de gerir.Sendo assim, o atual secretário municipal fechou acordo no 1º Juizado Especial Criminal, acatando sua condição de réu na esfera criminal, negociando o pagamento de três parcelas mensais, o que não impede de o mesmo ser também condenado em inquérito civil na área da administração pública, cujo processo de inquérito está aberto na 19ª Promotoria de Justiça. Em falas, o secretário tem a ironia de afirmar que o processo se refere à sua pessoa física e não à figura do secretário. Já eu tenho pleno certeza que me refiro ao secretário e não à sua pessoa física.Iris tem suas virtudes, que são muitas, mas não pode se distrair com os seus subordinados, porque as brasas, se assopradas, podem pegar fogo. Em que pese minha admiração pelo excelente trabalho que o sr. prefeito tem realizado não somente na administração de Goiânia, mas nos seus 50 anos de vida pública, registro aqui uma cobrança à displicência da prefeitura, que permite em seus quadros de primeiro escalão um administrador que reconhece sua culpa de improbidade imputada pelo Ministério Público – e continua no cargo.O Ministério Público já fez a sua parte. Temos que fazer a nossa. Pergunto: pode tal figura continuar no cargo sem onerar a ética e jogar um pouco de lama em todos que fazem o governo municipal, seus companheiros de ações, reuniões e planejamento?Mas que seja dita a verdade por inteiro. Na época do ocorrido, o atual secretário era apenas um diretor da pasta, o procedimento de improbidade administrativa que o teria beneficiado, na verdade foi aceito e aprovado pelo então secretário, professor Kleber Adorno, amigo, incentivador e padrinho político do réu condenado. Para se ter uma idéia, os dois trabalham juntos há anos, como uma dupla ciosa que age em torno da cultura desde os primórdios da década de 1990, alternando-se no mando, toda vez que o primeiro sai para se candidatar a um mandato público, seja pelo PSDB ou pelo PMDB, como ocorrido recentemente.Na cronologia da avidez e do desrespeito à razão pública, não estamos sós. No Brasil inteiro – e Goiás não é exceção –, a impunidade chega a ser um acinte ao cidadão de bem. Nessas últimas eleições, o povo goianiense deu claros sinais de que quer mudar, mas não pede uma mudança de nomes ou de partidos, mas de paradigmas. Não custa nada continuar sonhando. Mesmo porque o múltiplo e longevo Iris Rezende, que tanta estrada tem ainda pela frente, não é daqueles de permitir desaforos à fé pública entre seus comandados. Em uma época em que devemos louvar e preservar a todo custo a lisura pública, é preciso ir até as raízes do mal. E nesse caso percebemos que ela está plantada um pouco mais embaixo. Mais uma vez corre-se o risco de ser visto apenas o peixe pequeno. Pessoa física ou secretário, o fato é que se perde a primariedade. E a cultura perde a confiança. Por uma simples lei da biologia conferida pela máxima popular, sabemos que laranjas podres, se não atiradas fora, apodrecem todo o cesto. Cabe agora ao prefeito iluminar devidamente este caso, mostrando a todos que sabe que o que está em jogo é a representação do poder perante a sociedade da qual ele próprio emana.PX Silveira é vice-presidente do Instituto Pensarte
Vergonha do Centro Cultural Oscar Niemeyer
Cheguei esbaforido ao Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON) na terça-feira da semana passada. Para variar, estava atrasado. Era de minha responsabilidade a organização da parte de palestras e mesas-redondas da Feira Brasil Central Music (iniciativa do Sebrae digna dos maiores elogios e que foi um sucesso tanto entre o público que compareceu quanto entre os convidados que participaram do evento). Já fui pegando informações sobre quem seria meu ponto de apoio no trabalho, testando som, testando o datashow, verificando se tudo estava em ordem. Quando todo check list estava feito, saí do auditório Lygia Rassi (que fica embaixo daquela pirâmide vermelha) e fui observar o espaço.No meio daquela imensidão de cimento e debaixo daquele sol implacável das 14 horas, senti vontade de chorar: o descaso com as instalações do centro cultural é de comover até mesmo um coração concretado. Qualquer pessoa que tenha a mínima dimensão do que significa ser cidadão se indigna com o deterioramento e a subutilização do espaço. Qualquer um que fique puto ao olhar seu contracheque e vê a fortuna descontada de imposto de renda, qualquer um que fique puto quando compra um produto qualquer e sabe que parcela significativa dele está indo para o cofre público por meio do ICMS, qualquer um que fique puto com o peso da carga tributária em nosso país sentiria o mesmo que senti.É um absurdo que tamanho volume de dinheiro público tenha sido investido ali e a comunidade não veja esse recurso voltando à mesma por meio de atividades culturais. Eventos como a destacável Feira Brasil Central Music e o tradicional Goiânia Noise Festival tinham que ser rotina no CCON e não exceções. A biblioteca, que até agora não existe, deveria estar repleta de obras e recebendo dez escolas públicas diariamente, fazendo com que crianças e jovens da escola pública pudessem ter contato com o esplendor da literatura. Mas não. Está tudo às traças. Dinheiro público jogado fora. E pensar que uma das maiores demandas da produção cultural goianiense é justamente o espaço médio, categoria na qual o Palácio da Música Belkiss Spenziere se enquadra e contemplaria com excelência tal reivindicação.Mexer com dinheiro público é mexer com coisa mais que séria. O governante deveria ter o mesmo zelo ao lidar com o que foi arrecadado junto à sociedade tal qual o sacerdote tem ao trabalhar com a hóstia sagrada. E o que estão fazendo com o CCON é um acinte ao contribuinte goiano. O término da obra (inacreditavelmente não acabada até hoje e inaugurada sabe-se lá por que) é mais que urgente. A organização de uma agenda fixa de eventos seria o segundo passo para a boa utilização do espaço. Trazer a comunidade para dentro do local promovendo o diálogo entre as diferentes manifestações artísticas é o ponto final desse processo.Não é difícil colocar o CCON como local central da cultura em Goiás. Basta um pouco de trabalho e vontade política. O problema é que não sei se essa existe para que a coisa aconteça no belo espaço na saída para Bela Vista.Pablo Kossa é jornalista. E-mail: pablokossa@bol.com.br
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