ITABERAÍ
Crime eleitoral rende prisão
Funcionários da Superfrango são assediados para transferir títulos eleitorais. Inquérito deverá apurar abuso de poder econômico
por HÉLMITON PRATEADO para o jornal HOJE
O chefe do cartório eleitoral de Itaberaí, Breno Augusto Prado, recebeu no Fórum da cidade, no último dia 7, um grupo de pessoas que queria transferir seus títulos eleitorais para poder votar nas eleições de outubro. Um fato comum chamou a atenção de Breno: todos tinham declaração de que trabalham no Abatedouro São Salvador, cujo nome de fantasia é Superfrango, a maior empresa da cidade e cujo diretor-presidente, José Carlos de Souza, o Zé Garrote, é o principal dirigente do PSDB no município. As dúvidas do cartorário sobre o fato se transformaram em certeza quando a pessoa que conduzia o grupo, Domingos Rodrigues da Silva, conhecido como funcionário de Zé Garrote, pagaria as multas da transferência dos títulos para todos. Breno ligou para o promotor de justiça Edward Muniz e informou o que estava acontecendo no cartório e a ordem foi expressa: "Chame a polícia, prenda todos e leve para a delegacia para autuar em flagrante por crime eleitoral". Na delegacia as surpresas continuaram. O delegado Kleber Leandro Toledo Rodrigues, ao receber os presos e lavrar a prisão em flagrante de Domingos, soube que ele não estava no cartório somente para acompanhar seus supostos colegas de trabalho. Domingos também pertence aos quadros do PSDB e integra a executiva do partido no município. As declarações de vínculo empregatício com a Superfrango atestavam que a manobra para caracterizar como moradores e, conseqüentemente, eleitores devia ser colocada sob suspeição porque sabidamente os nove pretensos residentes são oriundos de cidades próximas. O caso já estava sob observação do MP há alguns meses, depois que o juiz da cidade, Paulo César Neves, recebeu uma denúncia de que um comitê político fora montado dentro da Superfrango como sucursal do PSDB. "As investigações apontavam para a utilização da empresa Superfrango como base para consolidação dos objetivos políticos de seu diretor", disse um dos investigadores. Além do flagrante de Domingos fazendo as vezes de funcionário da Superfrango e dirigente partidário, a situação complicou quando um advogado tentou lhe passar um telefone celular para que monitorasse toda a movimentação e recebesse orientações de Zé Garrote de fora da prisão. Sua prisão poderia ter sido bem rápida, não fosse a malfadada tentativa de entrega do celular. Ele ficou na cadeia por uma semana, até que o juiz lhe concedeu liberdade provisória. As investigações apontaram até agora que Zé Garrote agasalhou em sua empresa outros companheiros de política. Na Superfrango estão protegidos e remunerados do ex-presidente do diretório do PSDB no município, Antônio Beraldo, e o suplente de vereador, Florisvaldo Vila Verde, também do PSDB. Os dois são suspeitos de aliciar eleitores para que transfiram seus títulos para o município, principalmente aqueles que vão para Itaberaí apenas para trabalhar na empresa que tem como diretor o presidente do PSDB. Abuso — Além das suspeitas de que Zé Garrote utilize do expediente de liberar seus emissários para o assédio aos funcionários de sua empresa a transferir títulos de forma irregular, pesam sobre ele suspeitas de "abuso de poder econômico". O fato de não encontrar no município de Itaberaí mão-de-obra suficiente para a linha de produção e abate da Superfrango e oferecer vagas para moradores de municípios vizinhos não se constitui em crime eleitoral. A situação se complica quando se sabe que a residência dos trabalhadores na cidade é sazonal e precária, não se caracterizando como moradia e capaz de habilitar todos a participar do processo eleitoral. Domingos Rodrigues estava comandando o grupo de pessoas que requeria sua transferência de título de eleitor. Todos diziam ser funcionários da Superfrango e apresentavam declaração da empresa que serviria para comprovar. Todos iriam ser penalizados com uma multa pelo atraso na transferência ou por não participar de pleitos passados. Domingos não se limitou a levá-los até o Cartório Eleitoral, ele estava com dinheiro para pagar as multas de todos e fez isto de forma ostensiva à vista do chefe do cartório. Não havia outra saída para a Justiça Eleitoral de Itaberaí senão prender em flagrante quem comete tantos ilícitos à vista de todos. O detalhe que mais chama a atenção é o vínculo de Domingos com um partido político que tenta retomar o poder no município e sua ligação com a maior potência econômica da cidade. A utilização de empresas e recursos financeiros como plataforma eleitoral e partidária é crime tipificado e que pode ter um efeito didático não apenas para o PSDB, que teve seus quadros apanhados no flagrante, mas para todas as agremiações partidárias para que respeitem as regras da democracia. O Jornal Opção procurou o empresário José Carlos de Souza em sua empresa. A secretária Mônica Maia disse que ele estivera todo o tempo na linha de produção da empresa, onde era impossível falar ao telefone, mas que lhe seria dado o recado e pedido que retornasse a ligação, o que não ocorreu até o fechamento da edição.
http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Reportagens&idjornal=290&idrep=2632
sábado, maio 24, 2008
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