segunda-feira, outubro 23, 2006

Maguito torra R$ 1 bilhão e nem sabe onde. Será?

Cachoeira Dourada


Como torrar R$ 1 bilhão
por Salatiel Soares Correia


Há mais coisas entre o Céu e a terra do que imagina o povo de Goiás a respeito da venda de seu mais valioso ativo: a Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada.

Testemunhei toda aquela lamentável situação que transformou em poeira anos e anos de luta da sociedade goiana, no sentido de tornar Goiás um Estado auto suficiente na produção de energia.

Lembrei-me naquela época das inúmeras lutas políticas travadas por Pedro Ludovico e seus sucessores, em torno do grande sonho do povo goiano, que era a construção uma usina que tirasse Goiás da escuridão. Sim, porque a construção da Hidrelétrica de Cachoeira Dourada foi fruto de muita luta e o suor de um povo, durante muitas décadas.

Mas eis que de repente tudo que se conseguiu com a realização deste sonho acabou, ante a simples batida de um martelo, ocasionadas por uma ação nefasta aos interesses do Estado, numa visão equivocada, distorcida e tacanha de um governo. E atiraram na lata do lixo histórico uma fortuna tão que dificilmente, para não dizer nunca mais, os goianos conseguirá recuperar algum dia. E o que é pior: venderam a usina sem nenhum motivo que o justificasse, pois nada, absolutamente nenhuma outra obra de grande vulto se construiu com o dinheiro da privatização.

Pulverizaram os quase R$ 800 milhões em obras rotineiras que se constrói no dia-a-dia de qualquer governo mediano, tais como pavimentação de estradas e a construção de ginásios de esportes e assim por diante. Tanto é que se sair perguntando nas ruas, dificilmente se encontrará alguém capaz de lembrar de alguma obra construída com esse dinheiro.

Isto posto, procuro neste artigo abordar alguns aspectos básicos levantados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pela Assembléia Legislativa, no sentido de investigar o processo de privatização da Usina de Cachoeira Dourada.

Nesse sentido, há que se lembrar uma ação diretamente correlata à privatização e que igualmente trouxe enormes prejuízos ao povo de Goiás. Trata-se do contrato de suprimento firmando entre a já privatizada Centrais Elétricas de Cachoeira Dourada S.A(CDSA), a destinação dos recursos provenientes da venda feita, “em nome do desenvolvimento de Goiás” (sic!) Em seguida, o rumo que tomou a CELG sem sua praticamente única fonte de suprimento que era a usina.

Vamos, pois, aos fatos.

Primeiro: quanto ao contrato de suprimento.
O contrato de suprimento de energia firmado entre o governo de então solicitou, de acordo com relatório do órgão regulador do setor elétrico, a Agência Nacional de Energia (ANEEL) uma tarifa favorável a Centrais Elétricas de Cachoeira Dourada “53% mais cara que as demais concessionárias.”

Mas o que isso significou? Significou que o governo fez um negócio da China com um ente privado: comprou energia por anos a um preço 53% mais caro em relação a outros disponíveis no mercado. É como se tivéssemos carne de igual qualidade em dois açougues, com um detalhe que faz a diferença: em um dos açougues o preço da carne seria 53% mais caro em relação ao outro.

Resultado: só nessa operação a CELG, na condição de empresa pública, transferiu mais de R$ 300 milhões de reais para um ente privado! E o que é mais grave: os mais de R$ 300 milhões de reais somados aos quase R$ 800 milhões, provenientes da privatização da usina, fizeram o povo de Goiás assumir o astronômico prejuízo de R$ 1 bilhão de reais!!!

Segundo: como foi gasto o dinheiro.
O fato que mais entristece nessa privatização nefasta ao povo de Goiás é saber que o governo daquela época vendeu a usina apenas por vender, ao que parece, ou seja, para sanar problemas de caixa. E mais: não tinha um plano estratégico de desenvolvimento para o Estado, sem o qual, o dinheiro obtido com a privatização da empresa acabou por ser torrado sem maiores critérios para a sua aplicação.

Como já visto anteriormente, gastou-se a fortuna em obretas mais da conveniência eleitoreira dos governantes de plantão, conforme já se decantou nas tribunas da Assembléia Legislativa, que poderiam muito bem terem sido construídas com recursos da própria arrecadação estadual.

E vejam bem outros exemplos frutos da ação dos governantes que venderam a Usina de Cachoeira Dourada, sem maiores compromissos com o bem-estar do povo de Goiás e até de forma irregular:

1°) Gastos efetuados sem comprovação: mais de R$ 245 milhões de reais (CPI, Pagina151).

2°) Mais de R$ 486 mil reais destinados à locação de veículos (CPI, Pagina147).

3°) Entrada e saída de dinheiro da conta corrente 0070813-5: quatro milhões e quatrocentos reais saem da conta dia 30de março de 1998 e retornam no dia seguinte (CPI, Pagina 154);.

Outros 920 mil reais saem da conta no dia 19 de maio de 1998 e retornam no dia seguinte (CPI, Pagina 154).

Mais ainda: cinco milhões e quatrocentos mil reais saíram da conta no dia 25 de setembro de 1998 e retornam três dias depois, sem que se saiba o trajeto do city tour. (CPI,Pagina 154).

4°) Desaparecimento de documentos solicitados à Secretaria de Planejamento, a exemplo do relatório de acompanhamento de equipamentos e materiais permanentes provenientes de recursos da venda da usina.

Ressalte-se uma importante observação apontada pelo relatório da CPI a respeito do desaparecimento desse documento: este “seria capaz de esclarecer tudo, a respeito da utilização dos recursos provenientes da venda de Cachoeira Dourada, que estranhamente desapareceu” (CPI, página151).

Sem a usina, a Celg passou a ser um corpo sem coração e sem alma, pois empresa elevou enormemente o valor da conta de energia da energia elétrica para os seus consumidores, tendo que comprar a energia a um preço 50% acima do preço de mercado.

Resultado: agravou enormemente o desequilíbrio econômico financeiro da Celg, além de ter sofrido com a redução do seu poder de fogo. Desde então que a companhia praticamente não é mais ouvida nos grandes fóruns onde são travados os grandes temas que estabelecem os rumos do setor elétrico.

É pela consciência dos fatos descritos acima e suas conseqüências desastrosas para o povo goiano, na condição de cidadão e, ao mesmo tempo,procurando contribuir no sentido de evitar que Goiás volte a ser pensado e administrado por pessoas de visão tacanha, pequena mesmo, que o meu voto neste segundo turno da eleição de governador, será para Alcides Rodrigues.

Nenhum comentário: