segunda-feira, outubro 16, 2006

DÁ LÁ E TOMA CÁ!

Globo (RJ) - 18/2/2004

PMDB fica contra CPI de olho nos cargos

Adriana Vasconcelos


A discussão sobre a nomeação para cargos estratégicos do segundo escalão dominou a reunião da cúpula peemedebista que decidiu ontem não apoiar a criação da CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz. Mesmo com boa parte da bancada irritada com o tratamento que o governo vinha dispensando ao partido, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), conseguiu adiar os pedidos para depois do carnaval e ainda convenceu a maioria dos senadores peemedebistas a não assinar o requerimento da oposição. Mas o partido não fechou questão. Caso não surja fato novo que possa levar a bancada a rever sua posição, a expectativa é que haja no máximo três dissidências entre os 23 senadores peemedebistas.


- É melhor adiar para depois do carnaval. Podemos ser flagrados pelo Diário Oficial - disse um dos presentes sobre o preenchimento dos cargos.


A estratégia traçada pelo PMDB é mostrar unidade na sua solidariedade ao governo. E a pressa do partido para deixar isso claro tem uma explicação. Os peemedebistas não aceitam dividir com outros aliados ou mesmo com parte da oposição - já que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) entrou em campo para rachar o apoio dos pefelistas à CPI - os dividendos por terem conseguido barrar a investigação no Congresso. Isso deverá lhes garantir melhores condições na retomada das negociações para o preenchimento dos cargos de segundo e terceiro escalões depois que a crise passar.


- Pelo tempo que eu tenho de Congresso, essa CPI não sai, mas vai custar um preço inimaginável para o governo, interna e externamente - previu o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), que foi ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique e ainda não decidiu se apoiará o requerimento da oposição.


Renan, porém, garante que decidiu adiar as negociações sobre cargos justamente para que nenhuma nomeação seja interpretada como parte de uma negociação com o governo para barrar a CPI.


"Não queremos tocar fogo no Brasil", diz Renan


O argumento do líder peemedebista para negar o apoio do partido ao requerimento da oposição é que o país precisa de tranqüilidade e não politizar uma investigação que já está sendo feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.


- Não queremos tocar fogo no Brasil - justificou Renan.


Mas, durante a reunião, a preocupação em apressar a negociação dos cargos era outra: a de parecer que o PMDB estava usando a fragilidade do governo para barganhar a nomeação dos seus indicados para cargos estratégicos como a presidência do INSS.


A idéia inicial do líder peemedebista era divulgar uma nota externando seu apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à governabilidade do país, e se posicionando contra a CPI. Mas durante o almoço com a bancada a proposta acabou abortada. Diante da reação negativa de pelo menos quatro senadores peemedebistas - Pedro Simon (RS), Ramez Tebet (MS), Sérgio Cabral (RJ) e Hélio Costa (MG) - que recomendaram cautela ao partido, Renan desistiu.


- Não podemos passar o carro na frente dos bois. Quem tem de defender o governo é o PT - argumentou Hélio Costa, que chegou a sugerir que a bancada adiasse o anúncio de sua posição sobre a CPI.


- Fui contra a divulgação da nota. É preciso prudência nesta hora - disse Tebet.


O senador Mão Santa (PI) assinou o requerimento da oposição e diz que não volta atrás. Apesar de Renan ter declarado que Pedro Simon, atendendo aos apelos da bancada, só assinaria o pedido se a oposição conseguisse no mínimo 26 votos (um a menos do que o necessário para a instalação da CPI), o senador gaúcho marcou para hoje encontro com o senador Antero Paes Barros (PSDB-MT), quando poderá assinar o pedido.


Inconformado por ter sido preterido para o Ministério da Previdência e para a liderança do governo no Congresso, o senador Maguito Vilela (GO) poderá assinar também o requerimento, apesar das tentativas do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de Renan de demovê-lo da idéia.


- Assinei todas as CPIs até agora. Dei meu apoio até para uma CPI que investigaria o meu próprio governo em Goiás. Se Simon está liberado, porque eu também não posso assinar? - perguntou.

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