segunda-feira, julho 14, 2008

Goiânia sem lei

Recebi e publico na íntegra por que merece. Afinal alguém está falando abertamente do que acontece em Goiânia. Acrescentaria que PX foi durante anos o mentor intelectual de Kleber Adorno. A criatura enganou seu criador.
Visgo


Pessoas,
A coisa que mais impressiona é que mesmo sistematicamente denunciada as fraudes contra a Lei de Incentivo á Cultura Municipal, os atuais gestores continuam em frente como se nada estivesse acontecendo. A “esperteza” come solto e pior, pelo visto agora já não nem mesmo conseguem oferecer as migalhas típicas do compadrios no balcão, pois, evidentemente, não está sobrando nem as migalhas na hora de dividir o botim entre eles mesmos.
O MP continua omisso sobre o assunto, embora as denuncias sejam públicas e diárias nos jornais da Capital.
Dá o que pensar. O grande prefeito da Cultura sabe mesmo o que é cultura? É a hora do voto, a hora de escolher NÃO no plebiscito de outubro!
Abaixo segue mais um artigo publicado por PX Silveira, para que não sabe, tio do atual Secretário de Governo Municipal e que denuncia publicamente, mais uma vez, as ações de improbidade administrativa cometidas na SECULT pelo antigo secretário e o atual, a frente da pasta.
Beijos
Deolinda


A genealogia do atraso

Quanto mais rezamos, mais a assombração aparece. Os ditos populares são mais verdadeiros que muitas verdades juntas. Até no poder público, não tem sido o contrário. Outro dito verdadeiro, é que cada um reza à sua maneira. Assim, não tem sido outro o motivo que me leva a, de tempos em tempos, ocupar este importante espaço de opinião para relatar a indignação que espanta o mundo político-cultural, vítima dos fantasmas que assolam as atuais gestões nas esferas municipal, e principalmente, e estadual. Mais que apontar erros e desvios, é preciso denunciar o complô de mediocridade que paira sobre a cultura em Goiás. Se este é abstrato e por vezes de difícil percepção, aqueles são tremendamente evidentes. Mas muitos fingem não vê-los e se escondem debaixo da brasa, enquanto se assam as batatas de seus favorecimentos. Até mesmo gente de certa expressão, se cala para que se atendam seus pedidos e seus pequenos interesses. Outros se comportam dentro das expectativas mais medíocres, mirando nos votos que podem valer sua indicação para a academia ou em uma assinatura endossando seu nome para a próxima – e vexatória – gestão pública. E todos se calam, como legítimos protagonistas da cena pobre em que expiramos os melhores dias de nossas vidas. De tapinha em tapinha nas costas, cerram-se as bocas. E quem haverá de nos alertar, senão os loucos? Enquanto isso, a mediocridade vai medrando no esterco do favorecimento. A mediocridade, escondida sob a capa do silêncio, se fortalece no medo que as pessoas têm de ser felizes. E eis que, ao invés de se intimidarem, as assombrações vão se esgueirando pelas sombras da nossa passividade e vão se encorpando cada vez mais, a ponto de chegar o momento em que passamos a nos assustar com tudo que não seja assombração.Houve um tempo que o slogan da cultura goiana era “cultura em movimento”. Com o tempo, viu-se que o slogan tinha lá sua verdade. Apenas que o movimento na cultura, corrija-se, era de bacilos. Hoje, nem slogan temos mais, por mais equivocados que estejam. Mas as pessoas ainda são as mesmas. Estão aí, sonâmbulas, sem saber disfarçar suas posturas antiquadas e suas maneiras tortas de administrar as coisas públicas na cultura. Infelizmente, são pessoas do tempo do balconismo que ainda dão as cartas na gestão cultural, tempos idos em que se escolhia a quem apoiar não pela importância dos seus projetos, mas pelas conveniências políticas, eleitoreiras, afetivas e comensalistas. Não que estas pessoas estejam puramente mal-intencionadas, é que elas têm dificuldades de se atualizar e trabalhar de outra maneira. Bem que gostariam de fazer – que isso até poderia lhes render a perpetuidade, mas lhes falta visão e eficiência – e lhes falta coragem cívica para abandonar o posto ao qual se agarram avaros.Se no Estado temos uma gestora que sonha dirigir time de futebol, no município tivemos há pouco um secretário que deixou o cargo como quem deixa uma batata quente, certamente para ter tempo de tentar refazer sua tese sobre a importância do papel carbono. Já o atual secretário municipal, que quando diretor demonstrara seu pendor ao se auto-favorecer direta e indiretamente em cerca de 6 projetos beneficiados por edital de R$ 1,5 milhão, agora é ele mesmo que ocupa o posto e detém a chave. Este mesmo que, talvez sem querer ou por ignorância das regras públicas, coloca alguns aliados numa fria.Sou admirador de Bariani Ortêncio, sua pessoa, sua história, sua obra e, principalmente, admirador do carisma que lhe cresceu como resultado de tudo isso. Sou, também, forte admirador do poder de percepção e justiça histórica do Bariani Ortêncio, mesmo quando ele se manifesta de maneira inconsciente. Como quando tece elogios em suas crônicas declarando aos quatro ventos, literalmente, que determinado gestor é “o adorno da cultura goiana”. Com toda razão. Só que a cultura não vive de adorno, que lhe é pernicioso. Vive de raiz. Não vive de imagem, que lhe é traiçoeira, mas vive de densidade. No que diz respeito à gestão cultural, o adorno é extremamente pernicioso, algo que todo administrador que se preze deve evitar. Pois o adornismo leva unicamente à centralização, ao esnobismo e, conseqüentemente, à esterilização das idéias. Feitas as ressalvas, posso, portanto, garantir que não foi o Bariani Ortêncio quem errou ao ter um projeto de sua autoria indevidamente aprovado na última lavra da Lei Municipal de Cultura, criada pela gestão de Pedro Wilson. Erraram, sim, quero crer, os burocratas que conduzem aquela pasta, sob a égide da mimese cultural. A lei, feita para todos, é clara. Não se pode aprovar dois projetos de um mesmo proponente. E não se pode aprovar novos projetos do proponente que ainda não concluiu ou ainda não prestou conta do projeto anterior. É o caso do Bariani Ortêncio, que se vê, agora, envolvido como exceção de lei, exclusivamente pela falta de informação ou excesso de deformação dos gestores atuais da cultura municipal. Pois ele, Bariani Ortêncio, estava no seu papel, no seu direito e na sua capacidade ao apresentar um ou dois ou mais projetos, que seu poder de criação é transbordante, mas cabe ao poder público, como dever de judicioso, saber enquadrar todas as situações na lei que ele mesmo criou. Ou será que o Bariani Ortêncio é exceção?Aliás, essa lei, que tem sido a salvação do Iris na gestão cultural, é uma importante válvula de escape do compradismo que reina na sua secretaria, mas mesmo assim ela tem sido alvo de constantes reclamações.E não adianta tentar me impingir as cores do revoltado com os resultados de mais um edital municipal. Simplesmente porque sou um dos beneficiados, com o projeto Poteiro na Primeira Pessoa. Tal fato, muito pelo contrário, não me impede de fazer minhas críticas e constatações.Na verdade, “o toma lá da cá” sempre pautou a maioria das ações na incipiente área cultural goiana, onde medram os bacilos. A falta de uma política é o que fomenta essa prática vergonhosa e lhe dá húmus. E daí nasce sua filha bastarda, a mediocridade. Essa terrível filha que já nasce velha e matreira, que nos imobiliza e nos puxa para o atraso.
PX Silveira é coordenador do Porto das Artes e executivo do Instituto Arte Cidadania
Opinião (09/07/2008) DM
http://www2.dm.com.br/digital/index2.php?edicao=7551&contpag=2&posjornal=1362

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