sábado, outubro 14, 2006

Goiânia em cultura ...

Polêmica na academia

Banca avaliadora aponta irregularidades graves na tese de doutorado do Secretário da Cultura, Kleber Adorno. Ele diz que, por equívoco, há trechos do trabalho sem citação da fonte.

por Rogério Borges, fotografia Walter Alves

O Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG) reúne-se segunda-feira para tomar uma decisão sobre a tese de doutorado do secretário municipal de Cultura de Goiânia, Kleber Adorno, que está no centro de uma polêmica acadêmica.

O titular da Secult é doutorando em Ciências Ambientais na Universidade Federal de Goiás e apresentou à banca o trabalho A Constituição da Cidadania em Goiânia: Alguns Aspectos da Legislação que se Consubstanciam no Direito à Cidade, estudo que fala da relação entre os centros urbanos e seus cidadãos.

A defesa pública da tese estava marcada para segunda-feira, dia 26, no auditório do prédio 4 do Instituto de Ciências Biológicas, no Câmpus 2 da UFG. Não ocorreu, porém, pela ausência de Kleber, que apresentou atestado médico. Pesam sobre o texto graves suspeitas de irregularidades.

Mesmo na ausência do doutorando, a banca discutiu alguns aspectos relacionados ao trabalho na sessão, que é pública e foi presenciada pelo POPULAR. A professora Maria do Amparo Aguiar criticou duramente o trabalho. Disse que a tese de Kleber Adorno apresenta “muitos” e “gravíssimos” problemas e que sua qualificação, etapa anterior à defesa em que a peça acadêmica passa pela análise de uma banca de professores, havia sido “precária”. Em seu breve pronunciamento, a professora lembrou ao orientador do secretário no trabalho, professor Nivaldo dos Santos, que a tese só chegou ao estágio da defesa pública porque ele havia dado seu aval ao aluno.

Plágio
Ouvido ontem pelo POPULAR, o secretário admitiu que “na forma como está” o trabalho, em alguns trechos, pode ser tomados como plágio (leia texto nesta página). À banca, Kleber apresentou dois documentos em sua defesa. Na sexta-feira anterior, ele havia remetido um requerimento ao programa de pós-graduação pedindo que houvesse o cancelamento da defesa do trabalho em questão. Nesse pedido, o secretário argumentava que havia ocorrido um equívoco e que a tese a ser defendida por ele não era aquela que estava nas mãos da banca avaliadora.

Kleber pleiteava a chance de fazer um segundo depósito de nova tese de doutorado. Na segunda-feira, dia da defesa, o chefe de gabinete da Secretaria de Cultura, Jorge Leal, foi até o Câmpus 2 levar, em mãos, um atestado médico que informava da impossibilidade de o aluno comparecer à defesa.

Ainda na sessão de defesa, a professora Maria do Amparo objetou contra o pedido do segundo depósito alegando ter recebido a mesma tese anteriormente e que esse fato derrubava a justificativa de Kleber, de que houvera um engano no depósito.

O professor José Nicolau Heck, outro membro da banca, afirmou que o atestado médico permitia o adiamento e não o cancelamento da defesa e que era inaceitável que o secretário efetuasse novo depósito.

Depois de encerrada a sessão de defesa pública, o Colegiado do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais reuniu-se para decidir o que fazer. O coordenador do programa, professor Nelson Roberto Antoniosi, confirmou que o trabalho tinha “problemas graves” e que não estava descartada a possibilidade do envio do caso para a Procuradoria Jurídica da UFG.

Na reunião da segunda-feira, o colegiado não chegou a uma decisão prática sobre o assunto, o mesmo acontecendo em um novo encontro dos professores, ocorrido na manhã de ontem. Ficou decidido, porém, que uma terceira reunião será realizada na segunda-feira. O POPULAR tentou ter acesso à tese de Kleber, mas o Colegiado não quis liberar o texto para consulta.

Secretário se defende e dizque erro foi do digitador

“Aconteceu um grande equívoco. Eu mandei para o digitador da minha tese uma série de artigos sobre o assunto que eu trato para que ele incluísse trechos desses textos no trabalho, com a devida referenciação. Ele os incluiu, mas não deu os créditos que eu pedi que fossem dados”, explicou ontem o secretário Kleber Adorno ao POPULAR. “O digitador fez tudo errado. Algumas partes que meu orientador havia pedido para destacar, ele simplesmente retirou do trabalho.”

Ele admite que “da forma como o trabalho foi digitado e está, é possível pensar que houve plágio naqueles trechos específicos.” “Por essa razão, quero ter a chance de refazê-lo. Eu não seria inocente ao ponto de copiar trabalhos de outras pessoas dessa maneira. Eu sou pró-reitor da Faculdade Anhangüera e sou eu quem cuido para que isso não ocorra lá”, sustentou.

De acordo com Kleber, ele não percebeu os erros antes de efetuar o depósito na secretaria do programa de pós-graduação. “Eu fiz esse depósito em cima da hora, no último dia do prazo permitido.” Ele contou que, para a apresentação do trabalho, é necessário o preenchimento de um formulário específico. “Esse documento só ficou pronto no último dia, quando eu estava saindo de viagem para o Paraná. Por isso não conferi o trabalho do digitador”, complementou.

Antes do depósito, porém, Kleber enviou a tese para seu orientador, Nivaldo Santos, e para a professora Maria do Amparo, membro das bancas de qualificação e defesa. “Ela me disse que havia lido a metade do meu trabalho até aquele momento e que não havia encontrado problemas”, assegurou. A professora Maria do Amparo disse que, na ocasião, havia feito apenas “uma leitura preliminar, de uma pequena parte da tese” e que a leitura efetiva ocorreu para a defesa.

O secretário admitiu que só foi ler novamente a tese na semana passada, para se preparar para a defesa, e que apenas nesse momento constatou os erros.

Kleber disse que não acredita em uma ação jurídica por parte da UFG. “Essa questão é de ordem ética e não judicial. Além do mais, fui eu quem admitiu o problema por escrito para o programa de pós-graduação e até apontei onde estavam os trechos sem referência. Não há razão para isso.”

Caso a UFG não aceite que Kleber apresente um outro texto, o secretário estuda duas opções. “Ou eu peço judicialmente o direito de fazer novo depósito, já que o trabalho é meu e ainda não foi publicado, ou desisto do doutorado.” Ele observou que não vê razão para a negativa dos professores em relação a um novo depósito. “Se eu fosse reprovado durante a defesa, teria o direito de apresentar um novo trabalho para apreciação.”
http://www2.opopular.com.br/anteriores/29jun2005/

5 comentários:

Anônimo disse...

Aos desavisados ...A noticia é velha, todavia é pertinente. Um homem público frauda um tese de doutorado,após várias tentativas de protelar resultado punitivo por parte do acusado, a Universidade, aceita que tenha direito a uma nova banca examinadora,mas terá que defender a mesma tese. Não poderá mudar o texto depositado.
O homem público que é acusado de fraudar uma tese de doutorado é também o um ordenador de despesas na administração pública.
Defenderá a probidade administrativa do mesmo modo que defenderá a sua tese? Se algum dia tiver a cara de pau de defende-lá, é claro.
Parabéns Visgo !

Visgo disse...

O Blog recebeu esse informativo sobre o assunto em pauta: A revisão do texto em trabalhos cientificos e acha por bem indicar o trabalho do moço. Deve ser aparentemente bem melhor que do digitador da tese do "doutor" Kleber.

Informo a todos que continuo exercendo a atividade de revisor de textos científicos.

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Por favor, precisando desses serviços, consultem-me. Sabendo de quem precise deles, recomendem-me. Ficarei muito agradecido. Não sou o mais barato, minha sólida experiência no ramo respalda a qualidade de meu trabalho.

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São Paulo: (0xx11)8133-1138
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Muito obrigado,
Públio Athayde

Anônimo disse...

[b]Dos dez mil doutores formados durante o governo atual, quantos terão comprado suas teses a preços módicos? Fantástica a deflação nesse mercado; totalmente proporcional à qualidade do produto![/b]

Mensagem que recebi da colaboradora:

"Estou pasma!
Até em Carrancas [MG] tem gente vendendo tese.
Custa 300 reais qualquer tema.
[...]
Bjs,
Regina"

Comunidade contra a [b]Fraude Acadêmica[/b]:

Fraude acadêmica é todo tipo de prática antiética relativa a trabalho acadêmico. Como tal compreendemos a apropriação de texto, compra ou venda de trabalhos, violação de direitos autorais, terceirização de tarefas, falsificação de títulos, declarações e documentos de qualquer natureza.

Públio Athayde convidou você para participar da comunidade 'Fraude acadêmica'.

É nosso objetivo aqui coibir as violações de lisura, autenticidade, ética, originalidade e autoria que têm se tornado comuns nas instituições de ensino brasileiras.

Para ver a página da comunidade 'Fraude acadêmica', visite: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=276143

Visgo disse...

Públio,obrigado por comentar. Essa discussão é infinita e infelizmente, como pude ver algumas opiniões na comunidade, o corporativismo das Universidades é que alimenta esse mercado descarado de compra de teses e trabalhos acadêmicos. Se houvesse punição aos envolvidos isso acabaria certamente. Seja bem vindo.

Anônimo disse...

Como a fraude ocorre:
Não imaginem que os procedimentos são amadores na compra de teses. Não se compra uma tese impressa pelo Shoptime e ela chega em 24h por Sedex.
Existem garantias mútuas entre os cúmplices da fraude. Até porque quem compra não pode reclamar de uma tese ruim no Procon e quem vende não pode ir ao SPC em caso de inadimplência.
As teses são entregues e pagas por capítulos, estes capítulos são submetidos aos orientadores ao longo do tempo. Assim os fraudadores adaptam o texto às recomendações do orientador e da banca.
Em muitos casos, os dados empíricos são inteiramente inventados, para direcionar pasta perseguir a hipótese.
Desconfie-se sempre de entrevistas orientadas, e coisas do gênero, muito faceis de serem criadas por qualquer roteirista recusado até pelo SBT.
O "doutorando" fica como moleque de recados entre o orientador e os seus cúmplices, levando e trazendo orientações e produção, processo no qual ele aprende o conteúdo e se prepara para o defender.
Quer tiver dúvida, verifique a propaganda no Orkut mesmo... Faça uma "encomenda" de mentira para ver como funciona.
Infelizmente o Ministério Público ainda não atentou para essa prática. Pessoas precisam ser responsabilizadas criminalmente por essa prática para coibir a fraude.
Existe ainda a conivência criminosa de muitas instituições que, na gana de amealhar vinténs, não querem perder alunos (graduação ou pós) com escândalos de fraude e, por isso, varrem tudo para baixo do tapete e orientadores que não podem ter auditados seus próprios trabalhos.
A maioria das pessoas que discutem aqui essa questão estão do lado acadêmico da questão. Eu vejo por outro lado: sou revisor especializado em texto científico, trabalho no ramo há vários anos. Tenho sido sistematicamente assediado, nos últimos tempos, por pessoas querendo comprar textos. A fraude generalizada prejudicou completamente minha vida profisssional, pois hoje se vende uma tese pela quinta parte do preço que eu praticaria para revisar um documento equivalente.
Esse é o barulho que temos que suportar...